27.09 | 28.12. 2025

victor fortes: houve alguém que se enganou | someone got it wrong

Victor Fortes (1943-2025) é um caso enigmático no panorama artístico português. Bolseiro da Fundação Gulbenkian para a qual executou um baixo-relevo no edifício Sede (1969) e que patrocinou a sua ida para a Slade School of Art de Londres (1969-71), participante na X Bienal Internacional de São Paulo (1969), na First New York International Drawings Biennial no Bronx Museum (1977), ou ainda na Lis’79 – Exposição Internacional de Desenho (1979), a pouca atenção que Fortes tem recebido ao longo dos anos não parece conciliar-se com o promissor percurso desenvolvido em finais da década de sessenta e ao longo da década de setenta.

Várias razões poderão ser apontadas para este desinteresse/esquecimento quase generalizado pela obra de Fortes contudo, aquele que talvez se apresente como mais aparente e óbvio é o seu auto-votado “desaparecimento”. A intencionalidade desta decisão é clara, mas os seus motivos iludem-nos. Influenciado artística e socialmente por Max Bill, Fortes terá sido um artista de marcadas convicções políticas e comprometido no processo revolucionário desde 1974 – como atesta a sua participação no mural colectivo Painel do Mercado do Povo realizado na Galeria Nacional de Arte Moderna em Belém a 10 de Junho desse mesmo ano como membro integrante do Movimento Democrático de Artistas Plásticos.

Rumores não confirmados falam do seu desencanto com o percurso pós-revolução, sentimento partilhado por outros de igual fervor ideológico e denunciado em anos subsequentes. Se este motivo se apresenta como especulativo, outros existirão tendo em conta que a sua práctica artística se prolonga, nacional e internacionalmente, até ao início dos anos noventa.

Em Houve alguém que se enganou apresenta-se um conjunto de pinturas datadas de 1972-73, um curto mas particularmente marcante período na produção do artista onde a sua gramática se encontra plenamente desenvolvida. Apesar de se distinguir inicialmente no campo da gravura expondo nas Cooperativas Gravura e Árvore, reconhecidas pela sua tradição de resistência cultural anti-fascista, é na pintura que Fortes encontrará outras soluções plasticamente interessantes para o desenvolvimento das suas propostas.

Falecido anonimamente este ano, esta exposição tenta chamar a atenção – ainda que tardiamente – para um trabalho frequentemente ignorado mas único no contexto nacional.

 

Victor Fortes (1943-2025) is an enigmatic case in the Portuguese art scene. A Gulbenkian Foundation scholarship holder, for which he created a bas-relief in its main building (1969), and which sponsored his stay at the Slade School of Art in London (1969-71), as well as a participant in the 10th São Paulo International Biennial (1969), in the First New York International Drawings Biennial at the Bronx Museum (1977), and even in the Lis'79 – International Drawing Exhibition (1979), the scant attention Fortes has received over the years seems to be at odds with the promising trajectory he developed in the late 1960s and throughout the 1970s.

Several reasons could be cited for this almost widespread disinterest in/oblivion of Fortes' work, but what perhaps appears most apparent and obvious is his self-imposed "disappearance." The willfulness of this decision is clear, but its reasons mislead us. Influenced artistically and socially by Max Bill, Fortes was an artist with strong political convictions, committed to the revolutionary process since 1974 – as evidenced by his participation in the collective mural Painel do Mercado do Povo at the Galeria Nacional de Arte Moderna in Belém on June 10 of that same year as a member of the Movimento Democrático de Artistas Plásticos.

Unconfirmed rumors mention his disenchantment with the post-revolutionary period, a sentiment shared by others of similar ideological fervor and denounced in subsequent years. If this reason appears to be speculative, others must surely exist, given that his artistic practice would extend, nationally and internationally, until the early 1990s.

Someone got it wrong presents a set of paintings dated of 1972-73, a short but particularly striking period in the artist's production, during which his grammar was fully developed. Although he initially distinguished himself in the field of printmaking, exhibiting at the Cooperativas Gravura and Árvore, which are recognized for their tradition of anti-fascist cultural resistance, it was in painting that Fortes would find other visually interesting solutions for the development of his proposals.

Having passed away anonymously this year, this exhibition attempts to bring attention –albeit belatedly –to an often-overlooked body of work, yet unique within the national context.

agradecimento a | acknowledgment to
nuno calha, eduardo rosa, galeria 111