tba

liliya lifanova, lucas samaras: the estrangement set

Existem paralelismos marcantes e semelhanças ressonantes entre as práticas e até mesmo as trajetórias biográficas de Liliya Lifanova e Lucas Samaras (1936-2024), apesar das diferenças formais e da distância temporal que os separa. A natureza poliédrica do trabalho dos artistas – um protesto silencioso e singular, uma celebração do marginal e do outsider – resiste à lógica classificativa e às narrativas artísticas dominantes. No cerne de cada prática está uma exploração da identidade, conduzida em espaços cuidadosamente construídos, com condições de luz, objectos artesanais e indumentária, essenciais para a produção criativa de ambos, ainda que raramente evidenciados.

Em The Estrangement Set, Lifanova apresenta uma instalação que ocupa a totalidade da galeria: uma plataforma povoada por elementos escultóricos díspares. A artista reorganiza o espaço de modo a constelar condições de desfamiliarização – um ambiente deliberadamente dissonante, uma suspensão do banal, concebido para deslocar o espectador da percepção habitual, ainda que de forma momentânea. Inseridos neste ambiente encontram-se as Photo-Transformations (1973-76) de Samaras, autorretratos em Polaroid realizados na cozinha do seu apartamento no Upper West Side e manualmente alterados com reagentes químicos, produzindo imagens psicadélicas e inquietantes. Prolongando o jogo entre o espaço carregado da criação e aquilo que emerge no domínio público, um excerto do texto Crude Delights (1967) de Samaras é colocado de forma a poder ser lido apenas do exterior da exposição. Neste gesto, a oscilação da interioridade entre os dois artistas refracta-se para o exterior, para a rua, sublinhando a forma como Lifanova e Samaras negoceiam os limiares entre mundos privados e a experiência partilhada.

Um livro de artista será editado pela esculápio edições de artista.

There are striking parallels and resonant similarities between the practices and even the biographical trajectories of Liliya Lifanova and Lucas Samaras (1936-2024), despite the formal differences and temporal distance that separate them. The polyhedral nature of both artists’ work – a quiet, singular protest, a celebration of the misfit and the outsider – resists classificatory logic and prevailing artistic narratives. At the core of each practice lies an exploration of selfhood, pursued within carefully constructed space, lighting conditions, handcrafted objects, and attire, essential to the creative output of both artists, though they are rarely foregrounded.

In The Estrangement Set, Lifanova presents an installation that occupies the entire gallery: a platform populated with disparate sculptural elements. The artist reshapes the space in order to constellate conditions of estrangement – an environment deliberately dissonant, a suspension of the ordinary, designed to dislocate the viewer from habitual perception, however momentary. Nested within this environment are Samaras’s Photo-Transformations (1973-76), Polaroid self-portraits made in the kitchen of his Upper West Side apartment and manually altered with chemical reagents to produce psychedelic, uncanny images. Extending the interplay between the charged space of creation and what emerges into the public realm, an excerpt from Samaras’s 1967 text Crude Delights is positioned so that it can be read only from outside the exhibition. In this gesture, the oscillation of interiority between the two artists is refracted outward, onto the street, underscoring how both Lifanova and Samaras negotiate the thresholds between private worlds and shared experience.

An artist book will released by esculápio artist editions.

 

agradecimento a | acknowledgment to
milla lozanova, tiago rosa